sábado, 16 de outubro de 2010

Legitimação

Zé Padilha e Wagner Moura têm que se tornar uma dupla inseparável, a la Scorsese e Di Caprio atualmente. Essa é a conclusão mais imediata que tirei após Tropa 2.

Vou pegar a parte que me intrigou. Depois eu falo do resto. Ou não.

No Tropa 1, público e crítica riram - e deliraram - com as ações de Capitão Nascimento e sua equipe alfa. Gargalharam nas cenas de treinamento. Gargalhamos!!! Enquanto os vagabundos morriam pelas mãos dos caveira, o filme acabava por nos passar uma sensação de segurança. "Se há BOPE, há esperança". Beleza. Acabou o Tropa 1 o BOPE foi posto no pedestal. O BOPE e, claro, seus métodos.

No Tropa 2, muito mais "politizado" - odeio essa palavra politizado -, vimos o CORONEL Nascimento tentando se mover num pântano de intrigas e corrupção que é a secretaria de segurança, o que, aliás, foi muito bem mostrado no filme. E ele só virou sub-secretário por causa do apoio da população, de sua popularidade. "Bandido bom é bandido morto". O governo precisa - sempre precisou e sempre precisará - de um cara desses para a imprensa. E aí chegamos num ponto crucial que une os dois filmes: a legitimação do crime. O BOPE usa o crime com respaldo do Estado para coagir o crime organizado. Isso é um fato que não é nem considerado no primeiro filme. No segundo, há a figura do "cara dos direitos humanos" que tenta nos mostrar essa situação (e outras, por mais irritante que ele seja - a verdade irrita). Crime por crime, quem está certo? Nascimento não consegue admitir que é um criminoso também, como outro qualquer, mas um criminoso legítimo, da lei; ou, se Nascimento consegue admitir alguma hora, mesmo que internamente - daí a genialidade da personagem: as questões interiores são agustiantes e auto-punitivas -, tenta provar que o uso do crime para coagir o crime é legítimo para todos os efeitos. Há um conflito interno no decorrer do filme. Não sei se Nascimento toma uma posição concreta ao final do filme; se ele acha que o BOPE realmente é criminoso; se ele acha que o BOPE não é criminoso; ou, se ele acha o BOPE criminoso, se considera esse tipo de crime legítimo ou não.

Mas no fim do filme, no depoimento na câmara dos deputados, Nascimento explana seus conflitos internos quando pergunta a todos: "Matei muito vagabundo. Mas por quem? Por quê? Pra quê?"; "Admiti todos os meus erros e expus algumas coisas. Falei durante 3 hoaras." E aí o filme te faz pensar.

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