terça-feira, 27 de abril de 2010

Modo de vida

Personificações do "Modo de vida: 171".

O caso clássico: Se fazer de louco. Ser o loucão da parada. Acordar como louco, comer como louco, se tornar o loucão dentro dos amigos antigos, ser o loucão da faculdade, transar como um louco, se vestir como um louco, andar como um louco. Mentira. Personagem. Quem é louco não é assim. Quem é louco é diferente.

Ser, de fato, louco: Acordar feliz, ficar triste do nada, andar pela sala, fazer ginástica, lamentar quem lê jornal, ou seja, desgraça, perturbar-se com barulhos alheios, como obras e o baterista de merda do andar de cima, agraciar as pessoas que se ama com um bom humor pouco comum - afinal, o mundo está na fossa -, propor idéias artisticamente brilhantes, levar em consideração os fatores mais irrelevantes da vida, como o próprio azar, considerar a vida uma pérola, achar Deus um ignorante - considerando, claro, que ele existe -, fazer pão em casa, tomar cerveja vendo filme cult, viajar sozinho.

Pronto.

Alcança-se um paralelo do desgraçado e o engraçado. O engraçado é aquele que não é louco, mas se passa de louco para se dar bem, para ser diferente, para dar a bunda, para ser vanguarda, para ser modernista, para ser relesmundo, para enfeitar a vida com literatura clássica, para perturbar a vida alheia, para se alimentar de nada. Nada mesmo. Viver é uma questão de méritos, não apenas de "ser acomodado" ou "alienado". Invenções da massa. Massa. Massa. Isto é massa. Este infeliz se culpa dia inteiro por ter fumado maconha no dia anterior.

Desgraçado, coitado, é quem não tem graça. Tampouco compreende o por que dele ser um louco, mas sabe que é louco mesmo. Não graça de gracinha, piada, mas graça divina. Não divina de Deus, mas das forças do universo. Estas conspiram contra o desgraçado. Ele tenta, tentou e tentará a vida inteira apenas uma coisa: não incomodar ninguém. Desde que não seja incomodado. Ele não quer gostar de alguma coisa para que os outros gostem dele. Ele não quer saber dos outros, desde que os outros o deixem em paz. Por causa disso, por ter que sorrir sempre, ele é o desgraçado. E sempre será.

Mas tem gente que nasce com complexo de desgraçado-engraçado. Essas pessoas se matam antes dos 30 anos. Elas não tem vida; tem carma. Carma mesmo, daqueles que nem santo cura. Porra nenhuma cura. Só a morte. Mas não uma morte discreta. Foda-se esperar 80 anos pra morrer. Tem que chocar. Tem que abalar. Tem que ser feio mesmo. Foda-se papai, mamãe e quem fica. Ninguém pensaria duas vezes se estivesse no lugar do desgraçado-engraçado. Ele não suporta e...

Karma Police

Arrest this man, he talks in maths / He buzzes like a fridge, he´s like a detuned radio

Karma Police

Arrest this girl, her Hitler hairdo / Is making me feel ill, and we have crashed her party

domingo, 25 de abril de 2010

Personificação de fuder o dia no cú

Tudo aqui basear-se-á numa estória nojenta, porca, imunda.

Meu guru ideológico, 'FGM', chegou ao bar, num dia normal de bar, contando a seguinte estória: "Estava na rua quando um cara me parou. Ele estava desesperado, nitidamente. Ele me pediu carona para levar sua mulher até o hospital mais próximo, pois o neném deles estava para nascer. Eu disse que não teria como levá-los, então ele me pediu dinheiro. Eu dei 10 reais, pois aquele cara estava sendo verdadeiro. Ou, na pior das hipóteses, ele é um belo ator, então ele mereceu o dinheiro, mesmo se fosse mentira." Semana que passa, 'FGM' me manda um tweet explicando que seu pai fora abordado pelo mesmo cara com o mesmo golpe. Mal estar geral. Momento descrença abate a mim e a 'FGM'.

Aquilo fudeu o nosso dia no cú. Entrou fundo, sem areia. Foi a personificação dos maus tratos que não desejamos passar. Nós, apesar de cremos que não muitas vezes, temos moral. A gente luta todos os dias contra isso. Acordamos e dormimos pensando nisso. Só que o atorzinho de quinta não compra nem KY pra tentar amortecer a queda, acalmar nossos nervos, amaciar a vassourada que ele mete no cú do nosso dia e, por que não, da nossa semana toda. O cara não teve a consideração de fuder o cú do dia de alguém em outro bairro, outra rua. Os dois foram abordados praticamente no mesmo lugar. Ele não se interessa se a máscara cai. E ele vai insistir mais vezes, pois a moral não significa pra ele o que significa para mim e para 'FGM'.

Eu até gostaria de entrar no mérito se o que ele faz é culpa dele ou não, mas soaria muito modernista pra mim. Fuck you, atorzinho.

Acho que a literatura fode menos o dia no cú do que esse fato. O atorzinho não deixa que ninguém o compare com os outros. Ele quer fuder o meu dia no cú mais do que qualquer um ou qualquer coisa.

Fiquei pensando em pessoas essa semana. Pensei muito em McCartney, Harrison e Lennon. E também pensei como o dia de algum deles poderia ser fudido no cú.

O de McCartney: dia de gravações do Sgt. Pepper's. Paul liga para John e pergunta: "Cadê você, cara? Todo mundo tá aqui já. E você?" E John responde: "Vai ser foda de ir, cara. Tô morgadão aqui na cama. Bateu um desânimo fudido. Não aguento mais a Chyntia, minha vida, minha fama, enfim, não aguento mais nada. Amanhã eu gravo, relaxa." Paul finaliza: "Obrigado, John. Você acaba de fuder o meu dia no cú. Obrigado mesmo."

O de Lennon: Paul tenta impor liderança. Paul tenta controlar tudo. Paul caga para George e para John. "Um não quer porra nenhuma, só reclamar; o outro não é Lennon/McCartney, infelizmente para ele, claro". John chega no estúdio para gravar e se depara com Paul falando alto, indo de um lado para o outro, gritando com os engenheiros, querendo produzir junto com Martin. Quando Paul entra no estúdio para gravar algum take, John pega o microfone e fala para Paul: "Obrigado, hein, cara. Você acaba de fuder o meu dia no cú. Sem lumbrificante." E vai embora.

O de Harrison: Sempre que ele tenta dar uma opinião, Paul e John se entreolham. Isso fode muito o dia dele no cú. Fode sem noção mesmo. Sem escrúpulos. Pensa: "Happiness is a warm gun."


sexta-feira, 16 de abril de 2010

Sgt. Pepper Lonely Rebolation Hearts Club Band

Somos a banda do sargento pimenta; Não queremos vocês, imundos. Não queremos o reles, o público, a gritaria, a sobriedade. Nós queremos ser da Sgt. Pepper Lonely Hearts Club Band. Nós queremos ser da banda que não depende de ninguém, senão de nossos talentos. Talvez as droguinhas ajudem a nós, os drogaditos, a entendermos por que temos de fazer shows para todos esses imundos.


Beatles para o público: vocês não nos amam. Vocês nos querem pra vocês, como um souvenir. Porcos. Imundos. Porcos. Imundos.

John Lennon para McCartney: Você não me ama. Você me quer pra você, como um souvenir. Porco. Imundo. Porquinha dos infernos. Pode ficar com a Lucy com você.

Lennon para Harrison: Vai tomar no teu cu e fica na sua, sub-raça. Sub-banda, menorzinho, pequenino. Você tem piru pequeno, ouviu?

Lennon para Starr: Te amo, cara. Sério. Te amo. We all live in a yellow submarine, yellow submarine, yellow submarine.

Starr para Lennon, McCartney e Harrison: Amo vocês as well. We all live in a yellow submarine. Yeah.

McCartney para Lennon: Vai se fuder, seu marrentinho de merda. Eu sou mais talentoso que você. Eu faço as baladinhas boladas. Eu faço as linhas de baixo hipnotizantes. E você? Só grita que nem um doido. Lame, lame... Fucker!

Harrison para Lennon: Eu quero ser alguém também, senhor. Eu quero ser maior do que sou, pois sei que tenho material. Olha meu material ao menos, chefia. Por favor.

Harrison para McCartney: O chefe tá bolado. O que faremos?

McCartney para Harrison: Começaremos a fazer música, finalmente. Fique ao meu lado. Tem coragem?

Harrison para McCartney: Fuck off.

“All the lonely people, where do they all come from?
All the lonely people, where do they all belong?

Father McKenzie writing the words of a sermon that no one will hear

No one comes here

Look at him working, darning his socks in the night when there's nobody there

Who does he care?"

“Paul McCartney é morto num acidente de moto”

Lennon: Beleza. Vamos explorar isso até a banda acabar, Paul. Você não é o câncer. É só que eu ando meio bolado.

McCartney: Então vamos lá. E quem disse que eu não morri? Ou não. Quem sabe? Como saberemos?

“He blew his mind out in a car
He didn't notice that the lights had changed
A crowd of people stood and stared
They'd seen his face before
Nobody was really sure if he was from the House of Lords.

Lennon: Perdeu a cabeça, Paul? So, let’s get wasted.

“Follow her down to a bridge by a fountain

Where rocking horse people eat marshmallow pies
Everyone smiles as you drift past the flowers
That grow so incredibly high

Lucy in the sky with diamonds

Lucy in the sky with diamonds

Lucy in the sky with diamonds”

McCartney: Pode perder a linha assim, ditadorzinho? Então eu vou perder também.

“I'm painting the room in a colorful way

And when my mind is wandering
There I will go.

And it really doesn't matter if I'm wrong I'm right
Where I belong I'm right
Where I belong.
Silly people run around they worry me
And never ask me why they don't get past my door.”


Melhor coisa que aconteceu na carreira dos Beatles foi o fato deles não fazerem mais shows a partir de 66. Ali, finalmente, a coisa começa a andar - e parar de engatinhar.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Improviso

A programação que fiz no início do Estórias para o mesmo acabou. Eu acabei com ela aos poucos. Posso dizer que os assuntos abordados antigamente (saudosismo modernista) ainda serão abordados, só que de forma descontrolada. Só no improviso.

Sábado, vida que sacaneia vida. É assim. Saudoso aparece no bar, planta-se um enorme bem-estar entre todos. Talvez um pouco apagado por Rocket Queen, mas isso não abalou. O nosso bem estar fica garantido por uma noite longa. E às 6:15, o alterego de Thom Yorke me faz crer cada vez mais na vida.

"You all I need
You all I need
I'm in the middle of your picture
Lying in the reeds"

Eu creio na vida e creio na improvisação. Gosto mais da improvisação do que do texto. Eu, na verdade, não acredito no texto. Ele é pequenino. Foda-se o texto. Viva o Amor, amor, love, All we need is love.

Posso viver um dia de cada vez. Alterego também pode, e ele assim o quer. Ele assim sobrevive, e ele sobrevivendo eu sobrevivo também. Mesmo na improvisação. A sobrevivência baseia-se na improvisação, porque a improvisação é mais importante que o texto.

"There's nothing you can do that can't be done
Nothing you can sing that can't be sung
Nothing you can say, but you can learn how the play the game
It's easy"

terça-feira, 6 de abril de 2010

E o RJ continua lindo...

Quer você queira ou não – ou até mesmo São Pedro –, o Rio de Janeiro continuará lindo até que o mundo se acabe de vez. O pontapé foi dado, e quem se importa? Eu não.
Não conseguiram estragar com as belezas do Rio de Janeiro por mais de quinhentos anos, então presumo que não será agora.

“Eu queria um barquinho, doutor
Poder navegar pelo rio
Alcançar o peixe suculento
Sem me preocupar se volto ou não”

Há poucos anos atrás eu tinha um orgulho imenso de ser carioca. E tinha nojo de ser brasileiro. Conforme as águas passaram pelo Rio, desisti de pensar dessa forma. Eu tinha orgulho de ser carioca por causa da poética. A poética do Rio de Janeiro está nos bares, mas hoje não dá pra ir. Motivo? Estão todos fechados por causa da chuva.
Sem querer me preocupar demais com questões ideológicas, ressalto imediatamente que o Brasil é subestimado. Mal tratado, mal interpretado, mal freqüentado. Minha obrigação é amá-lo. Nunca a frase ditatorial “Ame-o ou deixe-o” fez sentido pra mim. Hoje ela se apresenta mais clara do que qualquer frase já dita na história desta colônia. Hoje a ditadura se apresenta menos inoportuna pra mim. Não que eu tenha vivido à época, mas houve uma tentativa de vanguarda ali que deve ser respeitada.
O Rio de Janeiro não decepciona quem vem ver, mas impressiona quem tenta amar as coisas que um dia já foram exaltadas por poetas medianos. Não sei por quê, mas tenho a impressão que seria um poeta boêmio mediano se tivesse nascido na década de 30. E vangloriaria o Rio até morrer. Era fácil ser um poeta mediano. Passar o dia inteiro no bar bebendo uísque e cerveja à vontade. Depois, bastava enaltecer aquela gostosa que passava pela rua, ou o pôr-do-sol diário, claro, em palavras bonitas e de efeito. Moleza.
Eduardo Paes, Sergio Cabral e eu. Um trio parada dura. Tentamos a todo o custo malhar o Rio como podemos. Mas às vezes não conseguimos suficientemente. É preciso olhar pra dentro da Lagoa Rodrigo de Freitas para espiar a lógica da nossa cidade. Lama, lama, lama. Como uma invenção do século XV, a segurança dos atos é inapropriada até para mim, que sou um relesmundo. Mas eu gostaria, um dia, de me afogar na Lagoa Rodrigo de Freitas. Queria me afogar de tanto nadar. Depois aparecer no jornal pálido e com frio dizendo: “amanhã eu estou aqui de novo, esse calor não dá!”.

“Tinha chuva,
Choveu
Nessa hora
A cidade desapareceu”

sábado, 3 de abril de 2010

Inversão de valores

Chego para almoçar numa churrascaria. Uma mesa grande ao centro aponta um grupo de gringos. Vem carne, linguiça, frango. Mas o silêncio não. Tudo bem, almoço num sábado de páscoa nunca será calado. Embalados com caipirinha, os gringos começam a cantarolar numa língua que não identifiquei. Italiano? Grande parte do restaurante acha isso simpático. Eu não. Eu acho a pior das putarias. Uma putaria escrota de engolir. Uma putaria dos diabos, digna de chacinas. Uma putaria sem precedentes. Fico com raiva. A partir desse ponto eu sou o antipático, o que não é receptivo, o que estraga o Rio de Janeiro, pois o turismo é importante para a economia. "Eles vêm aqui sempre, oras!". Eu quero que eles não venham mais. Fechem os portos, acabem com os voos internacionais, sejamos antipáticos, mal-humorados e ranzinzas. Declaremos o fim do ser carioca-otário. Prefiro morrer de fome, mas em paz. Eles gritam no meio do meu almoço a vontade. Todos acham simpático, espontâneo, engraçadinho. "Olha, os gringos não são tão frios, afinal". Fuck you, gringos. Fuck you. Eu não grito nem cantarolo no seu país, muito menos no almoço de vocês, bastardos gloriosos. Vocês cantarolam no meio do meu almoço porque vocês pensam "We have to mess with BRAZIL; we have to FUCK BRAZIL away". E a minha resposta é parafraseando Axl Rose: I don't give a fuck.

Ou melhor, não declaremos nada. Ser carioca é, cada dia mais, ser otário.