sábado, 20 de março de 2010

Música Para Ninar Dinossauros

O espetáculo começou com alguns minutos de atraso, mas nada demais. Havia um ator no palco, que estava com a cortina aberta. O cenário - que não mudou durante a peça - consistia num piano à esquerda, uma poltrona à direita, um sofá ao centro e um aparelho de som de discos de vinil entre o sofá e a poltrona.

A peça começa mostrando três quarentões bêbados, acompanhados de três prostitutas. O diálogo é preenchido por anedotas e tiradas que relacionam a idade, o álcool, a relação dos três amigos com as putas e delas com a "burrice". Depois de um diálogo completo, em que o raciocínio era exposto por completo, entravam três rapazes bêbados e cheirados com outras três putas. Os três rapazes representavam eles mais novos. Os conflitos eram o da cocaína, da frequência que eles iam ao bar, da falta de representatividade daqueles jovens na sociedade. E assim os dois grupos de seis se alternavam.

A peça em si, por volta de 40 minutos decorridos, estava ficando chata. Tudo que compreendia os dois universos - os mais velhos com as putas e os mais novos com outras putas - estava saturado. Nenhuma novidade. Mas então, com uma cena bastante forte em que um dos três rapazes tenta voar pela janela por causa da onda de chá de cogumelo - ele achou que fosse um pterodáctilo - e os amigos o seguram, segue uma cena em que o personagem que iria se suicidar sem querer, porém já quarentão, segura uma das putas para que ela não se suicide. Ali começa um conflito interessante:

AS PUTAS QUE SE SENTEM INÚTEIS E SEM FUTURO x OS QUARENTÕES BÊBADOS, SOLTEIRÕES E INÚTEIS QUE NUNCA SIGNIFICARAM NADA PARA A SOCIEDADE.

Num dos diálogos, um dos quarentões sucinta o sentimento dos outros dois (e de toda uma geração que nasceu entre 63 e 66): "Não participamos da revolta contra o golpe militar porque éramos muito moleques; não lutamos a favor da queda de Collor porque já éramos muito velhos, não tínhamos idade pra essa porra. E agora estamos aqui, sem porra nenhuma". A análise foi perfeita, principalmente se formos analisar pelo lado da auto-cobrança: "Meus tios, pais, avós e filhos fizeram coisa pra cacete pelo país. Mas eu não fiz nada."

Faz sentido.

Depois a peça segue com cenas de dramaturgia forte, o que estava faltando para o espetáculo de fato. Os diálogos são mais intensos e sem seis personagens no palco, mas com um ou dois.

A peça foi aplaudida de pé, inclusive por mim. Houve que sentisse falta de uma solução ou até de dramaturgia durante o espetáculo, mas o saldo foi positivo na minha opinião.

Um comentário:

  1. HAHAHAHAHAQ PTEDERODACTIL ??????
    NÃO ME É ESTRANHO ISSO.........................

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