Vamos voltar um pouco. 'In My Place', que não era a música que eu mais gostava deles, passou a ser. Mesmo sendo apenas a quarta música do show, eu já sabia que seria a melhor. Que desbancaria até a que eu mais gosto deles, 'The Scientist'. Confesso que foram poucas as músicas num show que elevaram tanto minha alma. Talvez umas três ou quatro, não tenho certeza. 'One' do Metallica, 'Don't Look Back In Anger', 'Slide Away' e 'Masterplan' do Oasis... Poucas outras. Foi uma combinação muito linda das luzes - que se mostraram impressionantes o show inteiro, principalmente em 'Clocks' -, dos instrumentos e de Chris Martin. Agora é oficial: sou fã dele. Talvez não fora do palco, mas dentro dele o cara é fenomenal. Mas uma parte em 'In My Place' foi a que mais me chamou atenção. Ele cantava: "I was lost, I was lost / Crossed lines I shouldn't have crossed / I was lost, oh yeah". Num pequeno intervalo antes de ir para o refrão e gritar "YEEEEEAH", Chris apenas pede com um português arrastado porém esforçado: "por favor, Rio de Janeiro!", e o complexo da Apoteose, quase lotado, responde a Chris e às luzes que se acenderam sobre nós: "YEAAAAAAAH / How long must you wait for". E assim até o final da música. Ali Chris Martin viu que poderia contar com o público. E fez muito bem.
Saindo um pouco de 'In My Place', o show prosseguiu com um tom de show de estádio, daqueles que o Queen fazia, mas extremamente intimista ao mesmo tempo. Culpa, mais uma vez, de Chris Martin. E do resto da banda, é verdade. Eles procuravam estar muito próximos do público. Chris corria para todos os lados; nas passarelas anexas ao palco, no palco, em tudo que é canto. Quando estava ao piano ele parecia que estava na platéia, ali com a gente, tocando numa roda de amigos. 'Hardest Part' (melhor música do X&Y junto com 'Fix You'), que ele tocou num piano no meio da passarela lateral, literalmente para o público e embaixo de chuva, provou que ele estava com muito prazer de estar ali. Tentava falar português a todo momento com o público, o que me cativou muito. 'Viva La Vida' foi como um estouro para o público que cantava a música o show inteiro - inclusive fora do complexo. Chris foi um grande maestro para as quase 30 mil pessoas (ou mais?), que, em êxtase, mostraram a Chris que o Brasil é um dos melhores países para se fazer um show.
Durante algumas músicas, no auge da maravilha de show que ele estava fazendo com seus três amigos, Chris caía nas passarelas anexas, se contorcia, cantava no chão, como uma criança feliz. Ali ele estava mais perto de nós do que nunca. 'Fix You' foi muito linda. Parecia um desabafo de todo o público aos problemas amorosos regidos por Chris. Ali, novamente, ele parecia um grande maestro.
Outro grande momento do show foi quando parecia que eles iriam para o intervalo, mas na verdade foram para um palco muito pequeno no meio do público, localizado entre o final da área vip e a grade da pista comum! Os quatro juntos naquela palcozinho, como quatro jovens que acabam de formar uma banda tocando num bar. Ali foi o momento mais intimista do show. Chris pediu para que todos ligasses seus celulares, e só o que se via eram luzes brancas. Tudo apagado para o momento Coldplay-público. E ali o baterista tocou guitarra acústica e cantou uma música inteira (muito legal, por sinal, a música e a voz do cara), Chris tocou gaita, o guitarrista tocou um violão, o baixista tocou guitarra e uma espécie de banjo... ou seja, a festa dos quatro naquela noite era de fato ali.
Quando eles saíram do palcozinho para o intervalo, o público sabia que faltavam poucas músicas para o fim do show. De volta ao palco, a banda tocou mais 3 ou 4 músicas - a última contou com aquelas borboletas superlegais - e saiu novamente. Muitos pensaram que o show tinha acabado de vez e começaram a ir embora do complexo. Eu não acreditava. Eu não iria sair dali sem ouvir a música que mais gosto (ou gostava, desde ontem) do Coldplay. Eles tinham de voltar para tocar 'The Scientist'. E foi o que aconteceu. Tão logo Chris voltou para o palco, sentou-se no piano e começou a tocar 'The Scientist', para delírio do público que cantava junto com ele a música inteira. "Come up to meet you, tell you I'm sorry" foram os versos que me fizeram arrepiar o corpo e a alma. E o resto da música foi igualmente emocionante. Ali eu já sabia o quão grande tinha sido todo o show, que passou por minha cabeça numa rápida retrospectiva.
'Life In Technicolor II' foi a última música do grande show. Um dos melhores da minha vida, com certeza. Não sei avaliar ao certo o que Chris Martin se tornou para mim. Ainda tenho algumas restrições a ele fora dos palcos, mas isso é muito mais fácil do que as que eu tinha dele em cima do palco: que ele tentava ser alguma coisa (um Thom Yorke pop). E o que eu vi ontem foi a negação de tudo que eu pensava. Como se ele estivesse pessoalmente respondendo a mim. Ele ontem representou outra verdade. Uma verdade que fez me transformar num fã de Chris.
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ResponderExcluirParabéns às palavras usadas, serviram de ótimo grado para percepção de como deve ter sido emocionante esse encontro com uma das bandas de rock apaixonantes que ainda resta nesse mundo.
ResponderExcluir*removi pq errei concordância
Obrigado, Fernando. Tentei passar pra vocês o quanto o show foi bom pra mim. Lavou minha alma, de verdade.
ResponderExcluirEspero que o de hoje, em São Paulo, tenha sido igualmente bom!!!
YEEEEEEEEEEEEAH! HOW LONG MUST YOU WAIT FOR!!!
Gostei do post. Repito: por algum razão que desconheço, melhor do que tudo q vc vinha escrevendo no Amor F.C.
ResponderExcluirSó vou criticar uma coisa. Vc, por vezes, valoriza o Chris e o Coldplay por se aproximarem da galera, quase por se tornarem a galera. Isso, para mim, é anti-estrela e, sendo assim, anti rock. A função da estrela de rock é justamente o contrário: levar a galera a se sentir estelar e não se tornar una com a platéia não estelar. Você diz: “Eles procuravam estar muito próximos do público”. Melhor seria: “o público procurava ficar mais próximo deles”. Quando o Oasis diz “tonight, I´m rock and roll star”. A pretensão deles é fazer todo mundo ser esse “I” aí. Não se trata de abdicar disso, para se tornar igual a todo mundo, uma bandinha de garagem, o vizinho ao lado. Se fosse para isso, quando seria o sentido da arte? Por que não ficar calado? Se abriu a boca é porque acha que tem algo que pode ser melhor. Melhor: “tonight todo mundo rock and roll star”. Isso é a promessa impossível.
Mas foi uma boa resenha. Até escutei Coldplay depois.
É, concordo com você. Talvez eu tenha tenha elogiado demais a banda e o Chris por terem sido próximos ao público. Fui até hipócrita, pois uma das coisas que eu AMO no Oasis é a distância que o Liam e o Noel impõem ao público. "Nós somos os Rock Stars e vocês são o resto, nossos fãs, a plebe" Isso é realmente empolgante numa banda de rock. Confesso que eu sou fissurado em ser um astro do Rock SOMENTE pra isso.
ResponderExcluirNão tem como todos serem rock and roll stars. Só os caras no palco. E, sim, o Coldplay desvalorizou a posição de Rock and Roll Star.
Mas pense por outro lado: Coldplay está aquém do Rock. Por isso eles desvalorizam essa coisa do Rock and Roll Star. E por isso o show deles foi muito bom, porque eles assumiram estar aquém do Rock 'n' Roll, aquém da atitude, da arte. E fizeram um show com outra proposta.
Né?