terça-feira, 30 de março de 2010

Ter o que falar

Primeiro passo de uma banda: Ter o que falar. Ter um discurso. Se não, tudo passa, e a música torna-se obsoleta.

1994: Cenário da música mundial: Nirvana quebra tudo. Guns N' Roses acabara de terminar (na prática), e já não havia uma banda, a não ser a de Kurt Cobain, que vinha cheia de atitude, idéias e DEPRESSÃO. Sim, depressão maquiada nas melodias empolgantes. Era a banda dos extremos. Pouco tempo depois, Cobain se mata. E aí, como ficam as coisas?

Fator sorte: Na Inglaterra, o Oasis lança seu primeiro disco, chamado Definitely Maybe. Por que foi a sensação? Porque o Oasis jogou a depressão no ralo quando disse em seu primeiro single "Rock 'n' Roll Star": "Tonight, I'm a Rock 'n' Roll Star!". A juventude, até então depressiva e carente, vê no Oasis a sua área de escape perfeita.

Fator inteligência: O segundo disco do Oasis sai um ano depois. Os garotos de Manchester estão rumo ao topo, e o nome do disco, "(What's The Story?) Morning Glory" é uma perspectiva daquilo tudo que estava acontecendo com eles: "Estamos rumo ao topo, perto dele, e agora, com essa pérola, encheremos estádio e chegaremos ao topo.

Fator azar: No terceiro disco, infelizmente, o Oasis não tem mais o que dizer. O que fica? O talento para compor "Stand By Me", "All Around The World", "Don't Go Away" e etc.

Fator conformismo: Noel Gallagher, um dos músicos mais inteligentes de seu tempo, sabe que o Oasis não tem nada de novo - tampouco relevante. Ele assume que a partir de 1999, o Oasis faria músicas de melodias envolventes e letras quase burocráticas, com exceção de algumas raridades poéticas como "Gas Panic!", "The Importance Of Being An Idle", "Guess God Thinks I'm Abel" e algumas outras.

Fator saturação: Em 2009, Noel Gallagher força o fim da banda. Fez muito bem. Agora o Oasis será um souvenir em nossas prateleiras. Se houver alguma volta ou reunião, haverá comoção em massa. Noel novamente se destaca pela inteligência. E se ele fizer algum trabalho solo, será para fazer algo totalmente não burocrático, o que seria o perfeito "retorno do gênio". Quero que Liam tenha herdado 1% da inteligência que Noel herdou dos pais deles, pois um trabalho ruim, piegas ou pra "cumprir tabela"com a nova banda será repudiado. Por mim, principalmente.

"Se você não tem o que dizer, fique quieto".

Haverá mais posts sobre o tema "ter o que falar" no Estórias, aguardem.

5 comentários:

  1. o melhor do post é sua imparcialidade hahahah

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  2. hahahahaha
    Não é essa a questão - se sou parcial ou não -, mas os fatos são o meu porto seguro para não falar qualquer coisa.

    Noel é gênio, e até o fim da banda que fez seu nome foi manipulado por ele. E não foi um ato impensado.

    Obrigado pelo comentário, Carol.

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  3. acho que vc escreve mt bem, de verdade. não entendo nada de música e ler o seu texto, a sua argumentação, realmente me convenceu(acho que essa era a real intenção). Quanto a parcialidade, não existe texto imparcial, pelo amor de Deus, apenas 1 adjetivo, ou 1 advérbio já são pessoais- acabou essa história de só quero expor fatos, essa carol, sem querer ofender ou causar barraco é soooo last week! hahahahahhaahha
    tá de parabéns querido! beijos

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  4. “A juventude, até então depressiva e carente, vê no Oasis a sua área de escape perfeita”: ah, não, você precisa aniquilar esse tipo de reducionismo jornalístico do seu texto.

    Que juventude? Não há uma JUVENTUDE depressiva com o Nirvana e alegre com o OASIS. Não há. Isso é só um ficçãozinha, meio clichê que se conta.

    Outra ficçãozinha: o Nirvana trazia a inevitavelmente fracassada utopia de um além das relações escrotas entre ídolos e público, a partir de uma consciência de que o “talento”, o “gênio” é só uma coisa que o mercado inventa. Kurt Cobain dizia coisas como: “pô, eu tenho sorte de ser americano, caso contrário, ninguém nunca teria nem ouvido falar do Nirvana, mas, como eu sou americano, eu fiquei milionário, na verdade, o Nirvana é só uma banda punk pop...”. Pós-isso, a gente tem que agüentar (o que para mim não é ego, mas só ignorância) o retorno à atitude rock star de sempre: “nós somos os melhores músicos do mundo”. Nenhum artista pop contemporâneo tem a capacidade de se ver como um mero produto, criado a partir de uma contingência: o domínio da lingua inglesa. O Oasis é só um sintoma disso. Boas músicas, ainda que quase sempre tolas, mas sempre muito ingênuos na atitude. Não é arrogância, é só tolice.

    Mas eu só estou falando isso para te provocar.

    Eu até gosto de Oasis.

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